terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Não transforme limites em limitações

Confundir limites e limitações é uma verdadeira armadilha para o nosso desenvolvimento pessoal e profissional.Qualquer que sejam as nossas metas na vida, uma coisa é certa: teremos que superar a nós mesmos para realizá-las. O maior obstáculo está sempre dentro de nós, assim como as possibilidades de vencê-lo.

Para se auto-superar você precisará conhecer em profundidade a si mesmo, e os mecanismos psicológicos que estão agindo em você.
Quando somos muito ousados ou inovadores demais, sempre ouvimos: “você passou dos limites!”. Quando somos muito conservadores, ouvimos que temos que ousar, inovar, ir além dos limites.

Como não podemos superar aquilo que desconhecemos, precisamos ter uma definição clara do que é um limite para vencê-lo. O meu limite de levantamento de peso (dentro das condições atuais) pode ser de 60 kg, o meu limite de fôlego para mergulho pode ser de 1 minuto, o limite do meu conhecimento é representado pela minha capacidade de resolver as questões pessoais e profissionais que a vida me apresenta.

Observe que a expressão “dentro das condições atuais” é a chave para o entendimento do conceito de limite. Se eu melhorar as condições atuais mudarei meus limites, ou seja, se eu oferecer condições inferiores, meus limites se estreitarão; se eu oferecer condições superiores, meus limites se expandirão!
Assim, se eu começar a fazer um trabalho de fortalecimento muscular, posso elevar meu limite de levantamento de peso de 60 kg para, digamos, 100 kg. Se eu realizar exercícios especiais para melhorar minhas condições respiratórias, posso ampliar meu limite de apnéia. Se o meu conhecimento atual não consegue resolver a contento as questões apresentadas, posso ampliar meu conhecimento estudando mais e buscando ajuda com alguém que possui conhecimentos superiores aos meus.

Esta é uma das características fundamentais que precisamos entender quando pensamos sobre limites.
Nossos limites se expandirão em função dos esforços conscientes que realizamos para superá-los.
Ampliar limites requer muita disciplina. Somente a dedicação constante tem o poder de expandir limites. No exemplo sobre o desenvolvimento muscular, se eu não me exercitar regularmente e de maneira correta vou regredir aos níveis anteriores. Uma vez conquistada uma ampliação dos nossos limites, temos que continuar trabalhando para mantê-los e superá-los.
O mesmo ocorre com nossas competências. Para continuarmos crescendo profissionalmente não podemos permitir que o nível atual de qualquer das nossas competências se torne uma limitação.

Nossas competências atuais representam nossas conquistas até agora. Para irmos além temos que ampliá-las, ou seja, encarar e expandir nossos limites, questionando nossa assertividade, nossa habilidade interpessoal, capacidade de trabalhar em equipe, etc.
Nossos limites possuem componentes históricos. Quando somos crianças nossos pais nos impõem uma série de limites na intenção de nos proteger. Assim, o limite que podemos nos afastar de nossos pais e por quanto tempo, irá variar de acordo com a nossa idade.

À medida que desenvolvemos um maior senso de responsabilidade, nossos pais passam a permitir que ampliemos os nossos limites. Este processo deveria ter como ponto final a nossa chegada à maturidade dentro da idade adulta, quando não precisaríamos mais de limites controlados por nossos pais.

Nossos limites sociais seriam estabelecidos em nossa relação com a sociedade, pela moral, pela ética e pelo nosso caráter. Mas isso nem sempre acontece.
Por excesso de amor e preocupação, os pais se esquecem de “alforriar” emocionalmente seus filhos, e se tornam pais controladores, que fragilizam o poder de decisão e o grau de segurança de seus filhos, tornando-os inseguros e ansiosos. Na tentativa de continuar estabelecendo limites, estes pais acabam criando limitações.

Algo similar ocorre com lideranças centralizadoras que, por equívocos no processo de delegação, tornam a equipe insegura e as decisões lentas. Não existe empowerment onde as pessoas não possam ser responsáveis pela tomada de decisões e dependam sempre do nível hierárquico superior. Um dos papéis fundamentais de um líder é desenvolver pessoas para que elas possam agir na sua ausência.

Para podermos evitar que nossos limites se transformem em limitações precisamos compreender bem o que é uma limitação.Uma das grandes causas de sofrimento e frustração de carreiras se deve ao fato de transformarmos limites em limitações, ou seja, desconsiderar que podemos trabalhar nossos limites e testar todas as possibilidades de ampliá-los, antes de considerar que eles sejam limitações.
Vimos que podemos alterar os nossos limites trabalhando intensa e dedicadamente em ampliá-los, mas até que ponto?Podemos ampliar os nossos limites até o exato momento em que eles se transformam em limitações, ou seja, até o ponto onde a disciplina, a dedicação e a técnica não possam mais ampliá-los.

Vejamos, se eu me dedicar a fazer halterofilismo por toda a vida, vou levantar pesos muito superiores aos que eu possa imaginar hoje, mas haverá uma limitação para a minha capacidade de levantamento de peso. Esta limitação será dada pela minha genética, ou seja, pela máxima capacidade fisiológica que meus músculos tenham de se desenvolver. A constituição física máxima que eu possa alcançar será a limitação, a partir da qual eu não conseguirei levantar um quilo adicional.Contudo, nossos maiores obstáculos estão nos limites psicológicos que associamos aos limites físicos, sociais, profissionais. Temos dificuldades psicológicas que muitas vezes nos impedem de avançar no conhecimento de certos temas. Temos preconceitos, crenças e valores que nos influenciam em nosso juízo de valor.

Pense em uma pessoa com surdez. Dentro do campo auditivo esta pessoa possui uma limitação que a difere de mim: ela não pode ouvir os sons que eu posso. Em contrapartida, sons que me distraem enquanto escrevo este artigo não distrairiam a esta pessoa, portanto, é bem possível, que ela possua um grau de concentração superior ao meu.
No entanto, esta limitação no campo auditivo não deve gerar limitações em outras áreas da vida desta pessoa. O fato de não ouvir não vai impedi-la de amar, de se relacionar, de ser um profissional de sucesso, etc. Não é a surdez que vai fazer esta pessoa feliz ou não. Quantas pessoas com audição perfeita e infelizes você conhece?

A surdez só vai limitar esta pessoa além das questões auditivas se ela permitir que esta limitação assuma um caráter amplo em sua vida. Particularmente, conheço surdos, cegos, deficientes neurológicos e paraplégicos incrivelmente felizes e realizados pessoal e profissionalmente. Eles se adaptaram à vida considerando suas limitações, mas não permitindo que elas prejudicassem outras áreas de suas vidas.

Temos que aprender a conviver com nossos limites e limitações, ambos naturais. Mas, não podemos deixar que um limite se transforme automaticamente em limitação (sem que tentemos superá-lo), e nem permitir que as limitações migrem de suas áreas de origem prejudicando toda a nossa vida e carreira.

Os para-atletas são um forte exemplo da superação de limitações. Em geral, os casos mais drásticos de limitações impostas pela realidade, incluindo fatalidades, apresentam pessoas que nos mostram a infinita capacidade de adaptação do espírito humano e superação.
Enquanto muitos de nós choramos por pequenos incidentes, estas pessoas que foram submetidas a situações drásticas deixam um recado em alto e bom som:
Não são os limites que tornam as pessoas limitadas, mas a sua postura diante deles. O fato de transformarem seus limites em desculpas nobres para atitudes pobres diante da vida.
Seus limites não são todos limitações, e os que forem, só podem limitá-lo parcialmente.
Se algo está limitando você na sua totalidade não são seus limites, mas as ilusões que você desenvolveu diante do medo de não poder vencê-los.

Nossas dificuldades e deficiências apontam caminhos para as nossas maiores vitórias. Na vida não são os perfeitos que vencem, mas aqueles que superam suas maiores dificuldades. O mundo pertence aos que tem coragem de enfrentar suas dificuldades.Os verdadeiros vencedores se conhecem profundamente, e, ao invés de focarem seus limites e limitações, focam suas forças e possibilidades. Os verdadeiros vencedores vencem a si mesmo, e é justamente por isso que a vida os premia.